O debate sobre a transparência corporativa vive um choque de velocidade paradoxal.
A União Europeia que se apresentava como a grande força regulatória com o Pacto Ecológico Europeu com metas ambiciosas de redução do impacto ambiental e com a proposta de várias diretivas como a Diretiva de Diretiva de Relato de Sustentabilidade Corporativa (CSRD) e a Diretiva do Dever de Diligência das empresas em sustentabilidade (CSDDD). Adotou nos últimos meses um discurso de simplificação.
Enquanto a Comissão Europeia, em fevereiro deste ano, respondeu às críticas de “excesso de burocracia” com o Pacote de Simplificação Omnibus – adiou em dois anos a aplicação plena da CSRD, dispensou as empresas que têm menos de 1000 colaboradores e prometeu simplificar os data points na Taxonomia Europeia e nos European Sustainability Reporting Standards (ESRS) – tudo isto com o objetivo de aliviar de 25% a 35% das obrigações de reporte.
Mais recentemente, em julho, recomendou às PME a norma voluntária VSME, concebida como um guia prático para organizar o reporte ESG de forma proporcional à sua dimensão e alinhada com as exigências que recebem de clientes e cadeias de valor. Poucos meses antes, o Relatório Draghi já advertira que uma exigência regulatória demasiado densa podia desgastar a competitividade das empresas europeias face às norte-americanas e, sobretudo, às asiáticas.
Enquanto a Europa abranda, Pequim acelera.
Em dezembro de 2024, o Ministério das Finanças Chinês publicou Basic Standards for Corporate Sustainability Disclosure, the first stage of a standard that will become mandatory for major listed companies.
These companies will have to report on fiscal year 2025 by April 2026, with gradual extension to the entire Chinese economy by 2030. China is not only adopting double materiality, but also including requirements on biodiversity and the circular economy — topics that may end up being watered down in the new version of the ESRS.
O cenário Norte-Americano
Across the Atlantic, the movement is one of retreat. In March, the U.S. Securities and Exchange Commission (SEC) decided in court not to defend its Climate Disclosure Rule, spreading uncertainty over its entry into force and signalling that a new draft is unlikely before a public consultation.
There has also been a request to withdraw from the Paris Agreement, with official exit set for January 2026. Even so, several states, such as California and New York, have adopted their own ESG rules and requirements affecting both public and private companies operating in their territories. Some companies, however, choose to maintain disclosures to satisfy investors by following global standards such as SASB, TCFD, GRI or ISSB.
A pressão do mercado não abranda com as oscilações políticas.
Um inquérito mundial da KPMG a 153 instituições financeiras em 28 países mostra que a integração dos riscos ESG em modelos de crédito é hoje um dos desafios estratégicos mais citados por bancos e supervisores.
Do lado dos investidores, a International Sustainability Standards Board revelou que já há mais de 20 jurisdições — representando quase 55 % do PIB global.
Um estudo recente que analisou empresas de 62 países conclui que as empresas que divulgam dados ESG pagam, em média, menos 0.5% de juros sobre o capital próprio. Isto acontece graças à maior qualidade da informação e pela sua fiabilidade, o que atrai investidores institucionais que aceitam ganhar um pouco menos em troca de um risco menor.
Quais as lições a retirar deste panorama mundial?
First, delaying legislative timelines does not create a competitive buffer — on the contrary, global value chains and international financiers adopt comparable metrics regardless of each region’s political pace.
Segundo, banks and investors guided by market regulators’ recommendations are converging towards standardised requirements to compare risks and opportunities, reducing the space for vague narratives or incomplete data.
Terceiro, companies that treat reporting purely as a compliance exercise risk missing a strategic opportunity. The sooner ESG metrics are integrated into risk management, the faster they can be turned into benefits and competitive advantage.
O quadro regulatório mundial oscila, mas a bússola dos investidores mantém-se fixa na procura de relatórios transparentes, comparáveis e auditáveis. Para as empresas europeias que ambicionam competir em mercados globais ou financiar-se a taxas atraentes, a escolha é entre esperar pelo semáforo verde de Bruxelas ou iniciar já, mesmo que a passos pequenos a volta de aquecimento antes que o pelotão desapareça na primeira curva.
O futuro não abranda: quem converte os dados ESG em vantagem hoje lidera amanhã; quem hesitar nesta decisão aceita perder competitividade e a ficar para trás.
Escrito por Beatriz Santos
*Foto da capa de Christophe Meyer no Unsplash