Com o aumento da pressão global para atingir metas de neutralidade carbónica, multiplicam-se as estratégias para reduzir e compensar emissões.
Entre elas, os créditos de carbono assumem um papel central — especialmente no mercado voluntário. Estes créditos representam a redução ou remoção de uma tonelada de CO₂ (ou equivalente), permitindo a empresas e indivíduos compensar emissões inevitáveis através do apoio a projetos ambientais certificados.
A lógica é clara: quem polui mais pode equilibrar o impacto adquirindo créditos gerados por quem protege, regenera ou evita emissões. Mas num mercado em expansão, cresce também a exigência por mecanismos fiáveis, transparentes e com impacto mensurável.
É aqui que entram as plataformas certificadoras do mercado voluntário de carbono — entidades que verificam e garantem a integridade ambiental e social dos projetos.
Mercado Voluntário vs. Mercado Regulamentado
Antes de mergulharmos nas plataformas, importa distinguir dois caminhos distintos. O mercado regulado, como o Sistema Europeu de Comércio de Emissões (EU ETS), funciona sob normas legais e impõe limites obrigatórios às emissões de setores específicos.
Já o mercado voluntário é mais flexível: permite que qualquer organização ou indivíduo, por iniciativa própria, compense parte da sua pegada através da compra de créditos associados a projetos certificados.
Enquanto o mercado regulado opera com licenças de emissão, o mercado voluntário movimenta créditos de carbono. Ambos equivalem a uma tonelada de CO₂, mas têm origens e funções distintas. Nos dois casos, o objetivo é comum: reduzir o impacto climático e promover comportamentos mais responsáveis.
Confiança é Tudo: O Papel das Plataformas
Numa altura em que o risco de greenwashing é elevado, a escolha da plataforma que certifica os créditos de carbono é crítica. Estas entidades definem padrões, métodos de verificação e critérios de qualidade que determinam a credibilidade de cada crédito emitido.
Entre as diversas opções no mercado, quatro plataformas destacam-se pelas abordagens distintas e pelo nível de reconhecimento internacional: Verra, Gold Standard, Plan Vivo, e Planetary Carbon Standard (PCS).
Verra é a mais utilizada globalmente. Criada em 2007, opera com o Verified Carbon Standard (VCS) e certifica projetos nas áreas de florestas, energia renovável, resíduos e agricultura. É reconhecida pelo rigor técnico, auditorias independentes e foco em critérios como adicionalidade, permanência e rastreabilidade.
Gold Standardé a escolha certa para quem quer garantir que a compensação de carbono se traduz também em impactos sociais positivos. É uma referência na integração dos ODS em projetos ambientais.
Plan Vivo apresenta uma abordagem diferenciadora, centrada em comunidades locais. Foca-se em projetos de pequena escala — como agroflorestação ou agricultura regenerativa — e destaca-se pela participação ativa das populações envolvidas e metodologias adaptadas aos contextos locais.
A mais recente das quatro, a Planetary Carbon Standard (PCS), aposta na inovação tecnológica. Fundada em 2021, recorre a sensores, satélites e blockchain para garantir rastreabilidade digital em tempo real, com dashboards interativos e transparência total. É uma proposta que alia compensação climática e inovação descentralizada.
Como Escolher a Plataforma Certa?
A resposta depende dos objetivos e da natureza do projeto:
-
- Verra é ideal para empresas que procuram escalar rapidamente e necessitam de um selo com forte reconhecimento internacional. Com mais de 1300 milhões de créditos emitidos, é líder de mercado.
-
- Gold Standard é a escolha certa para quem quer garantir que a compensação de carbono se traduz também em impactos sociais positivos. É uma referência na integração dos ODS em projetos ambientais.
-
- Plan Vivo oferece soluções para quem desenvolve projetos de base comunitária e quer assegurar um acompanhamento próximo, com impacto visível nas populações locais.
-
- PCS é indicada para organizações que valorizam inovação, dados em tempo real e total transparência. A aposta na tecnologia torna-a particularmente atrativa para startups e projetos digitais.
Plataforma | Verra (VCS) | Gold Standard | Plan Vivo | Planetary Carbon Standard (PCS) |
Ano de Fundação | 2007 | 2003 | 2008 | 2021 |
Foco dos Projetos | Florestas, energia, resíduos, agricultura | Energia, água, florestas, saúde | Agroflorestação e projetos comunitários | Reflorestação, solos e captura de carbono |
Critérios-Chave | Rigor técnico, adicionalidade, permanência | Impacto social e alinhamento com ODS | Participação local e metodologias acessíveis | Transparência e rastreabilidade via tecnologia |
Verificação | Auditorias técnicas independentes | Indicadores ambientais e sociais validados externamente | Estimativas locais validadas periodicamente | Sensores, satélites e dashboards digitais |
Scale (M: million) |
1300 M ton CO2eq reduzidas/removidas | 407 M ton CO2eq reduzidas/removidas | 2.02 M ton CO₂eq reduced/removed | 8.6 M ton CO2eq reduzidas/removidas |
Reputação | Líder global | Referência em sustentabilidade com impacto social | Nicho consolidado em impacto comunitário | Emergente, com foco em inovação e tecnologia |
Mais do que Compensar: Construir Confiança
A compensação de emissões não pode ser vista como um fim em si.
É um dos instrumentos disponíveis para alcançar a transição climática, mas só será eficaz se assente em critérios rigorosos, verificação independente e impacto real. A escolha da plataforma é, por isso, um passo estratégico.
Num contexto em que os consumidores exigem autenticidade, os investidores pedem responsabilidade e o planeta não pode esperar, garantir que cada crédito de carbono é mais do que um número — é um compromisso — é essencial.
Entre reputação, impacto social, escalabilidade ou inovação digital, cada organização pode encontrar a plataforma que melhor responde à sua ambição climática.
Escrito por Beatriz Santos
*Foto da capa de Roger Starnes Sr na Unsplash