Quatro Abordagens, Um Propósito: Guia para Escolher a Plataforma de Crédito de Carbono

Escolher uma plataforma de créditos de carbono é crucial — Verra, Gold Standard, Plan Vivo e PCS oferecem caminhos distintos para o mesmo objetivo climático.

Com o aumento da pressão global para atingir metas de neutralidade carbónica, multiplicam-se as estratégias para reduzir e compensar emissões.

Entre elas, os créditos de carbono assumem um papel central — especialmente no mercado voluntário. Estes créditos representam a redução ou remoção de uma tonelada de CO₂ (ou equivalente), permitindo a empresas e indivíduos compensar emissões inevitáveis através do apoio a projetos ambientais certificados.

A lógica é clara: quem polui mais pode equilibrar o impacto adquirindo créditos gerados por quem protege, regenera ou evita emissões. Mas num mercado em expansão, cresce também a exigência por mecanismos fiáveis, transparentes e com impacto mensurável.

É aqui que entram as plataformas certificadoras do mercado voluntário de carbono — entidades que verificam e garantem a integridade ambiental e social dos projetos.

Mercado Voluntário vs. Mercado Regulamentado

Antes de mergulharmos nas plataformas, importa distinguir dois caminhos distintos. O mercado regulado, como o Sistema Europeu de Comércio de Emissões (EU ETS), funciona sob normas legais e impõe limites obrigatórios às emissões de setores específicos.

Já o mercado voluntário é mais flexível: permite que qualquer organização ou indivíduo, por iniciativa própria, compense parte da sua pegada através da compra de créditos associados a projetos certificados.

Enquanto o mercado regulado opera com licenças de emissão, o mercado voluntário movimenta créditos de carbono. Ambos equivalem a uma tonelada de CO₂, mas têm origens e funções distintas. Nos dois casos, o objetivo é comum: reduzir o impacto climático e promover comportamentos mais responsáveis.

 

Confiança é Tudo: O Papel das Plataformas

Numa altura em que o risco de greenwashing é elevado, a escolha da plataforma que certifica os créditos de carbono é crítica. Estas entidades definem padrões, métodos de verificação e critérios de qualidade que determinam a credibilidade de cada crédito emitido.

Entre as diversas opções no mercado, quatro plataformas destacam-se pelas abordagens distintas e pelo nível de reconhecimento internacional: Verra, Gold Standard, Plan Vivo, e Planetary Carbon Standard (PCS).

Verra é a mais utilizada globalmente. Criada em 2007, opera com o Verified Carbon Standard (VCS) e certifica projetos nas áreas de florestas, energia renovável, resíduos e agricultura. É reconhecida pelo rigor técnico, auditorias independentes e foco em critérios como adicionalidade, permanência e rastreabilidade.

Gold Standardé a escolha certa para quem quer garantir que a compensação de carbono se traduz também em impactos sociais positivos. É uma referência na integração dos ODS em projetos ambientais.

Plan Vivo apresenta uma abordagem diferenciadora, centrada em comunidades locais. Foca-se em projetos de pequena escala — como agroflorestação ou agricultura regenerativa — e destaca-se pela participação ativa das populações envolvidas e metodologias adaptadas aos contextos locais.

A mais recente das quatro, a Planetary Carbon Standard (PCS), aposta na inovação tecnológica. Fundada em 2021, recorre a sensores, satélites e blockchain para garantir rastreabilidade digital em tempo real, com dashboards interativos e transparência total. É uma proposta que alia compensação climática e inovação descentralizada.

Como Escolher a Plataforma Certa?

A resposta depende dos objetivos e da natureza do projeto:

    • Verra é ideal para empresas que procuram escalar rapidamente e necessitam de um selo com forte reconhecimento internacional. Com mais de 1300 milhões de créditos emitidos, é líder de mercado.

    • Gold Standard é a escolha certa para quem quer garantir que a compensação de carbono se traduz também em impactos sociais positivos. É uma referência na integração dos ODS em projetos ambientais.

    • Plan Vivo oferece soluções para quem desenvolve projetos de base comunitária e quer assegurar um acompanhamento próximo, com impacto visível nas populações locais.

    • PCS é indicada para organizações que valorizam inovação, dados em tempo real e total transparência. A aposta na tecnologia torna-a particularmente atrativa para startups e projetos digitais.

Plataforma Verra (VCS) Gold Standard Plan Vivo Planetary Carbon Standard (PCS)
Ano de Fundação 2007 2003 2008 2021
Foco dos Projetos Florestas, energia, resíduos, agricultura Energia, água, florestas, saúde Agroflorestação e projetos comunitários Reflorestação, solos e captura de carbono
Critérios-Chave Rigor técnico, adicionalidade, permanência Impacto social e alinhamento com ODS Participação local e metodologias acessíveis Transparência e rastreabilidade via tecnologia
Verificação Auditorias técnicas independentes Indicadores ambientais e sociais validados externamente Estimativas locais validadas periodicamente Sensores, satélites e dashboards digitais

Scale        (M: million)

1300 M ton CO2eq reduzidas/removidas 407 M ton CO2eq reduzidas/removidas 2.02 M ton CO₂eq reduced/removed 8.6 M ton CO2eq reduzidas/removidas
Reputação Líder global Referência em sustentabilidade com impacto social Nicho consolidado em impacto comunitário Emergente, com foco em inovação e tecnologia

 Mais do que Compensar: Construir Confiança

A compensação de emissões não pode ser vista como um fim em si.

É um dos instrumentos disponíveis para alcançar a transição climática, mas só será eficaz se assente em critérios rigorosos, verificação independente e impacto real. A escolha da plataforma é, por isso, um passo estratégico.

Num contexto em que os consumidores exigem autenticidade, os investidores pedem responsabilidade e o planeta não pode esperar, garantir que cada crédito de carbono é mais do que um número — é um compromisso — é essencial.

Entre reputação, impacto social, escalabilidade ou inovação digital, cada organização pode encontrar a plataforma que melhor responde à sua ambição climática.



Escrito por Beatriz Santos

*Foto da capa de Roger Starnes Sr na Unsplash

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